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Oficina antropológica em Brasnorte – MT e visita à aldeia Halataikwa do povo Enawenê-nawê

   Pedro Passos, antropólogo que conviveu muitos anos com o povo Enawenê-nawê, foi o condutor da oficina, que tinha como objetivo propiciar um espaço de troca de conhecimentos entre antropólogos e profissionais de saúde, visando a qualificação das ações de saúde desenvolvidas junto ao povo Enawenê-nawê. Pedro trabalhou alguns conceitos de antropologia (física e cultural) e em seguida adentrou na etnografia dos Enawenê-nawê. Os profissionais tiveram espaço para perguntarem sobre aspectos culturais das populações indígenas que vivem no Brasil, sobre os Enawenê-nawê e exporem experiências e demandas relacionadas ao serviço de atenção à saúde nas aldeias.

 

Ao final desta oficina, os participantes elaboraram propostas de solução ou de minimização dos problemas levantados, pensando também na continuidade das ações na aldeia. Os participantes receberam também uma apostila com a síntese dos conceitos trabalhados no evento. O material encontra-se disponível em nossa INTRANET para os funcionários do DSEI Cuiabá (acesse). Com base nas avaliações dos participantes, todos elogiaram a iniciativa e saíram satisfeitos com esse espaço de diálogo e reflexão sobre a prática em saúde indígena, sendo reforçado em várias avaliações à necessidade de manutenção de um calendário para novas turmas, com a mesma finalidade e mesma metodologia. Abaixo segue a programação da oficina, como forma de auxiliar demais interessados em promover capacitações deste tipo:

 

DATA TEMA METODOLOGIA
03/05 Manhã:
- Abertura e apresentação dos participantes;
- Programação e expectativas da oficina;
- Atividade para pensar o olhar sobre o outro.
Tarde
- Introdução a conceitos e teorias antropológicas úteis aos profissionais da saúde indígena: Antropologia física
- Roda de conversa;
- Dinâmicas sobre a organização do serviço de saúde;
- Dinâmica sobre a percepção do outro;
- Exposição dialogada;
04/05 Manhã
- Introdução a conceitos e teorias antropológicas úteis aos profissionais da saúde indígena: Antropologia social
Tarde
- Introdução a conceitos e teorias antropológicas úteis aos profissionais da saúde indígena: Antropologia social
- Exposição dialogada;
- Apresentação de vídeos;
05/05 - Entendendo o povo Enawenê Nawê: História do contato; organização social e territorial, cosmologia e processos de mudança. - Apresentação dialogada;
- Relato de experiências;
- Roda de conversa;
- Apresentação de vídeos;
06/05 - Breve apresentação da Política Nacional de Atenção à Saúde dos Povos Indígenas e diretrizes e estratégias de atenção diferenciada à saúde;
- Relato de experiência da implantação da atenção ao pré natal, parto e puerpério na aldeia Halataikwa;
- Discussão de casos;
- Sistematização de estratégias de qualificação da atenção diferenciada à saúde ao povo Enawenê Nawê.
- Apresentação dialogada;
- Relato de experiência;
- Trabalho em grupo.

 

 

NA ALDEIA

Após a capacitação, o grupo seguiu para a aldeia Halataikwa para, junto com a população Enawenê-nawê, realizar reuniões de levantamento de demandas e dos problemas e preocupações existentes, visando repactuar acordos e propostas com os indígenas e entre as instituições envolvidas. Estiveram presentes representantes da SESAI, DSEI Cuiabá, Polo base Brasnorte, a EMSI de Halataikwa, SPDM-Saúde Indígena, FUNAI, CONDISI-Cuiabá, Secretaria Executiva de Estado de Educação (SEDUC), Conselho Indigenista Missionário (CIMI) e Ana Carolina, Procuradora do Ministério Público de Cárceres (MT).

 Foram três dias de intensas reuniões, com pautas que variaram entre saúde, educação, justiça, território e segurança. Ao término de cada reunião, propostas foram levantadas e todas as instituições e os Enawenê-nawê se comprometeram a colaborar para a efetivação dos combinados.

Durante esses dias acontecia também na aldeia o ritual de Yãkwa, realizado todo ano pelos Enawenê-nawê durante o plantio da mandioca (para saber mais, acesse ISA). Foi interessante para quem participou da oficina vivenciar na aldeia alguns aspectos da cultura Enawenê-nawê anteriormente discutidos. Assim, os Enawenê-nawê pediram algumas pausas nas reuniões para não interromperem o ritual e tal solicitação foi prontamente respeitada. Fora isso, eles convidaram todos os visitantes a prestigiar seus cantos e ações durante o Yãkwa, além de serem muito receptivos durante toda a visita. Todos, indígenas e não-indígenas, saíram deste primeiro encontro com o compromisso de realizar ações para que os acordos e propostas sejam efetivos.

Por fim, os dois momentos – oficina e visita a aldeia – funcionaram como partes de um todo que se mostrou bastante eficaz no que diz respeito à prática diferenciada em saúde indígena.

Karine Assumpção